Outro enlatado

Nada como um super-herói que, apesar de ainda o ser, afinal não o é.
Acho que é uma mistura gira.
Esta história é ainda mais antiga que a do Batman, mas tem um lugar especial no meu coração.



Espero que gostem.

O Super-Homem estava ao balcão de um bar de metrópolis; mais propriamente, uma tasca do mais rasca imaginável, suja e pouco iluminada. Afogava na bebida a sua depressão.
Cabisbaixo, apenas erguia a cabeça para tragar outro copo de uísque, já precedido de uma longa série.

Eram 5 horas da manhã. O proprietário do bar, ao servir o 178º uísque,
num acto de humanismo perguntou-lhe:

- Então, Super-Homem, o que se passa ? Posso ajudá-lo?
- ...

O Barman insistiu:

- Como pode o Homem mais poderoso do mundo, o homem de aço, estar abatido? O mundo precisa de si, diga-me o que tem!

- Sou um infeliz...
- Porquê, Super-Homem?

- Eu... eu tenho... tenho um ... Não consigo!
- Diga Super Homem, diga!

- Eu tenho um rabo grande!


O Barman perdeu a fala. Tentou responder de imediato, mas com a estupefacção não lhe saiu nada.

- ...
- É a verdade e não suporto mais!

- Pois...
- Por mais que faça, por mais que eu tente, não consigo mudar o meu aspecto!

- Pois, pá... Eu cá disso não sei...
- Todos os dias levanto-me bem cedo para combater o crime: tomo o meu banhinho, ponho o meu perfume e visto o meu fato de lavadinho.

- Sim?
- De lavadinho, é como te digo. Olha: primeiro, visto os meus collants azuis. Depois, visto a minha camisola azul de licra, justinha ao corpo. Esta com o "S" enorme ao peito, vês?

- Sim , realmente é bonita...
- Visto as minhas cuecas encarnadas por fora dos collants, e prendo-as com o meu cintinho de fivela amarela. Depois, ato a capa vermelha ao pescoço e faço este caracolinho de cabelo na testa com o meu gel.

- Pois, o que me diz é o que eu vejo, de facto...
- por fim, calço as minhas botas encarnadas de cano alto e lá vou eu combater o crime.

- Mas, Super-Homem, não percebo: toda a gente se prepara para ir trabalhar...
- Espera que ainda não acabei. É que quando chego a casa, dispo-me todo e miro-me ao espelho. Faço cara de mau, mostro os dentes, viro-me de costas e não vejo nada de anormal. Como pode haver pessoas que dizem que eu tenho um rabo grande? Deve ser tão grande que não vêem mais nada; só vêem rabo, rabo, rabo.

- Super-Homem, acho que está a exagerar. Não vejo em si nada de anormal ou mal proporcionado.
- Olha, diz isso aos má-língua que se põem a gritar "Lá vai o rabo do Super-Homem, lá vai o rabo do Super-Homem!"

- ...
- Ah pois!

- Super-Homem! Vamos lá falar como deve de ser! Estou a falar com o homem mais poderoso do planeta, conhece-o? Aquele que pára um comboio em movimento! Aquele que é mais rápido do que uma bala! Sabe que mais eles dizem ? "Olhem! É um pássaro? Um Avião? Não! É o...
- ... "Rabo do Super-Homem"...

- Não senhor! "SUPER-HOMEM", só! Caramba, se se deixa abater por este tipo de coisas, o que será de nós os pobres mortais? Levante o queixo e olhe em frente! A humanidade precisa de si, vai abandoná-la por meia dúzia de mal-dizentes?

O Super Homem levantou o queixo.
Olhou em frente.
Com o brilho da confiança nos olhos, levantou-se e disse em voz GROSSA:

- TENS RAZÃO, EU SOU O HOMEM DE AÇO!
- ISSO MESMO!

- TENHO CONFIANÇA OUTRA VEZ!
- É ASSIM MESMO!

- SOU O HOMEM MAIS PODEROSO DO MUNDO, DO UNIVERSO!
- NEM MAIS. Agora vá para casa, Super-Homem. Descanse, e amanhã estará como novo.

- IR PARA CASA? ESTOU A DETECTAR UM TERRAMOTO NA TASMÂNIA! TENHO DE IR, O DEVER CHAMA-ME!

Saiu a correr pela porta passando pelo guarda nocturno, antes de levantar vôo a uma velocidade supersónica em direcção à Tasmânia.

O Guarda nocturno interpelou o dono do bar:

- Atão, António. Clientela fina, não? Já serves o rabo do Super-Homem?
- Pff. Não sabes tu da metade. Ainda ontem esteve cá o parvo do Batman, o cabrão do Demolidor e a puta da Mulher-Maravilha.

- A propósito, passei agora mesmo pelo cara-de-cú do Homem Elástico.
- Nem me fales nesse gajo! Consegue ser pior que o rabo do Super Homem, para correr com eles do bar vejo-me e desejo-me!

- Olha, António, vem aí o roto do Capitão América.
- Arre! Fecha a porta rápido e apaga a luz!

- Já não há tempo! Chiu, ele aí vem!


O Capitão América, visivelmente alterado, entrou no bar e dirigiu-se ao Barman num tom forte e seco:

- António, já nos conhecemos há alguns anos. Somos amigos, certo?
- Certo, Capitão. O Senhor é um cliente habitual. O que tem? Parece zangado.

Enquanto dava uma volta de 360 graus sobre si mesmo com os braços abertos, o Capitão América perguntou:

-Diz-me por favor, se por acaso hoje ou alguma vez, alguém viu um buraquinho que fosse no meu fato!

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