Ainda a música - Um especial sobre Rufus Wainwright

Caros blogoespectadores, vivemos num mundo de asfixia criativa - reparem como a frase atrás é eficaz - agora que se fala muito da asfixia democrática. Basta dizer "asfixia" e a seguir, outra coisa qualquer, que percebemos logo do que é que o outro está a falar.

Voltando, vivemos em tempo de asfixia criativa; tudo quanto é entretenimento ou arte, como a música, o cinema ou a televisão, são prisioneiros de fórmulas.

Pensem lá comigo; os filmes de Hollywood têm 90 minutos. Durante esse tempo, o herói não quer entrar em acção até que o mau mata o melhor amigo dele. Então, o herói parte numa senda de vingança onde, pelo caminho, encontra a sua cara-metade. Faz amor com ela no fim do segundo acto e passa o terceiro acto a lutar e a vencer o vilão.

Este foi apenas um exemplo, mas já repararam como os filmes podem ser e são catalogados?
"Ah, é um filme de acção."
Ou então, "é uma comédia romântica."
"Terror."
Etc, etc.

Eu sei, sempre houve uma classificação para os filmes e, mal ou bem, sempre houve uma fórmula mais ou menos delineada.

O problema é que hoje em dia não se arrisca nada. Não há um produtor com os tomates no sítio que diga "Vou arriscar no teu projecto, parece inovador."

É por isso que, e chamem-me saudosista se quiserem, eu prefiro o cinema antigo. O cinema que nos ofereceu realizadores como George Lucas, Francis Ford Coppola, Brian DePalma, Martin Scorcese, Ridley Scott, Steven Spielberg e acima de todos, Stanley Kubrick.

Já repararam que não há novos realizadores hoje em dia? E porquê? Porque não são realizadores, são executantes da fórmula. Não lhes é permitido colocarem o seu cunho pessoal nos filmes que fazem e, como tal, não sobressaem.

Honrosas excepções?

Guy Ritchie e o inevitável Quentin Tarantino.
São inovadores, fazem os filmes à sua maneira e, por isso, Hollywood olha para eles de soslaio.

E a música? Pelo menos a música é mais abrangente. Se não está a passar hip-hop na Mtv, está a passar rap. Ou vice-versa. Rap e hip-hop, hip-hop e rap. Razão? Os produtores de música, tal como os do cinema, conhecem uma fórmula que sabem render-lhes um dinheirinho certo e seguem-na à risca. Para quê arriscarem em coisas novas?

Pronto, para ser justo, não é só hip hop e rap. Também há raparigas a cantar com as mamas quase de fora: Britney Spears, Cristina Aguilera, Shakira, Jennifer Lopez, Beyoncé, etc.
E atenção, mamas de fora é uma coisa saudável; mas como elas apenas têm as mamas quase de fora e no fundo, não cantam nem dizem nada de jeito, mais valia estarem sossegadas.

Voltando ao mesmo, por que razão acham que bandas inovadoras e distintas como Led Zeppelin, Pink Floyd, The Police, Marillion, Genesis, New Order, Metallica, Iron Maiden e os fabulosos Queen... Sejam todos do século passado?
Digam-me uma banda que tenha aparecido depois do ano 2000, ou mesmo depois de 1990, que tenha "partido o molde" e apresentado algo completamente inovador.

Pois é, não há. Ou melhor, elas existem mas não têm tempo de antena.

Por isso, é preciso procurar. É preciso meter as mãos no fundo do caixote e remexer até aparecer aquela diferença que mexe connosco e que nos faz apreciar coisas novas.

Foi assim que encontrei Rufus Wainwright.



Rufus Wainwright que, modéstia à parte *ahem*, conheci pessoalmente.
Estava eu mais a minha mulher no Galeto a jantar, depois de termos ido ao concerto dele no Coliseu, quando de repente a minha esposa fixa o olhar em alguém fora do meu campo de visão.

Perguntei-lhe a brincar:

- O que foi? Até parece que viste o Rufus.
- Olha, por acaso, estou a ver.

Quando ele passou por nós, dada a vergonha da minha mulher, interpelei-o:

-Hey, Rufus. Great show, man.
-Oh, thank you very much.

Rapaz simpático. Lá demos dois dedos de conversa até que eles se foram sentar. Pouco depois, vieram ter connosco para os ajudarmos a escolher o jantar, porque não faziam ideia de quais eram os pratos que estavam na ementa.
Foi giro. Pronto, para a minha esposa foi fabuloso.

Bom, agora que já me gabei à brava, voltemos a falar do Rufus propriamente dito:

É, na minha opinião, o melhor compositor e intérprete da sua geração. É um génio brilhante, que mistura nas suas músicas elementos como pop, rock, folk e música clássica. E o resultado não é uma salganhada: é música bonita e diferente, com marca de autor, da qual vos convido a ouvir três excertos:

Beautiful Child:



April Fools:



e o belo de arrepiar, Dinner at Eight:



Nota 1: para as senhoras potencialmente interessadas, e caso ainda não tenham percebido; o homem é irremediavelmente gay.

Nota 2: Já que se fala em gays... pronto, MM, os U2 também foram inovadores, vá.

3 comments:

Anónimo disse...

aaaahhhhh... what a night!
Nota à parte - posso ter o prazer de dizer que o Rufus se atirou ao meu marido! LOL Não é qualquer uma! =P

Quantum disse...

Bem...
Para minha defesa, que fique bem claro que saí de lá contigo...

:-)

Anónimo disse...

Deve ter sido uma noite bem divertida! Gostava de ser mosca e ter estado lá... Um beijinho para os dois!